Quando Ser Mãe Não é Como Eu Imaginava: Acolhendo a Frustração

Durante a gestação, somos inundadas por imagens idealizadas da maternidade. A frustração começa com comerciais de fralda com bebês sorridentes, redes sociais com mães serenas e bem arrumadas, conselhos que prometem fórmulas mágicas para tudo dar certo. Eu mesma me vi fazendo planos, listas e mais listas (olha “o poder das listas” aí de novo!) sobre como seria a minha rotina com um bebê nos braços. Mas a verdade é que, quando meu filho nasceu, a realidade me apresentou um lado que ninguém tinha me contado.

E foi nesse contraste entre o que eu imaginava e o que vivi que encontrei a frustração. E, depois dela, um aprendizado imenso sobre aceitação, resiliência e amor verdadeiro.

A imagem idealizada da maternidade

Antes de me tornar mãe, eu achava que bastava amor e organização para tudo funcionar. Planejei horários, pesquisei os melhores produtos, estudei sobre sono infantil, alimentação, desenvolvimento. Achei que estava pronta.

Mas logo nos primeiros dias, me vi exausta, sem conseguir dormir, com o corpo dolorido, um bebê que chorava muito e um turbilhão emocional que parecia não ter fim. Cadê aquela paz das fotos? Cadê o “instinto materno” que resolveria tudo com um abraço?

Foi aí que caiu a ficha: eu estava tentando viver uma maternidade imaginária, não a minha. E isso estava me fazendo mal.

A frustração como parte do processo

Durante muito tempo, tive vergonha de admitir que estava frustrada. Como assim eu, que desejei tanto esse filho, agora estava triste, cansada, irritada?

Demorei a entender que a frustração não significa falta de amor. Ela nasce da distância entre a expectativa e a realidade — e é humana. Ter idealizado algo não é um erro. Mas insistir nessa imagem e se culpar por não conseguir alcançá-la, isso sim, é injusto.

Permitir-me sentir e nomear essa frustração foi o primeiro passo para lidar com ela de forma mais saudável.

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O luto da mãe ideal que eu imaginei

Existe um tipo de luto que ninguém fala: o da mãe que idealizamos ser. Eu me imaginava paciente o tempo todo, com tempo para brincar, cozinhar papinhas coloridas e manter a casa em ordem. A verdade? Havia dias em que mal conseguia tomar banho ou comer direito.

Quando aceitei que aquela versão perfeita não existia, algo dentro de mim se libertou. Porque no lugar da exigência, veio a compaixão. E com ela, a possibilidade de me enxergar como uma mãe real — cheia de falhas, mas também cheia de amor e vontade de acertar.

Comparações silenciosas que machucam

É fácil cair na armadilha de comparar nossa maternidade com a de outras mulheres — especialmente nas redes sociais, onde tudo parece organizado e leve. Eu mesma já me peguei olhando fotos de mães que pareciam ter “dominado” a criação dos filhos e me sentindo menor por não conseguir fazer igual.

Mas o que aprendi é que cada família tem sua dinâmica, seus desafios, seus bastidores invisíveis. A comparação nunca é justa, porque ninguém vive exatamente a nossa realidade.

Aprendi a usar essas comparações como inspiração, não como cobrança. E a lembrar que não preciso ser igual a ninguém, só ser suficiente para meu filho — do meu jeito.

Criando espaço para a vulnerabilidade

Uma das maiores mudanças que fiz foi abrir espaço para a vulnerabilidade nas minhas conversas com outras mães. Comecei a contar como me sentia, sem medo de julgamento. E para minha surpresa, muitas respondiam com: “Eu também!”.

Percebi que estávamos todas tentando sustentar uma imagem de força o tempo todo, quando na verdade o que mais precisávamos era de acolhimento.

Falar sobre a frustração, o cansaço, o medo de errar, me ajudou a criar laços mais verdadeiros com outras mães — e a entender que não estou sozinha.

Como acolher a frustração na prática

1. Nomeie o que você sente

Não guarde tudo para si. Escreva, fale com alguém de confiança, reconheça seus sentimentos sem julgamentos. Sentir raiva, tristeza ou exaustão não te torna uma mãe pior. Te torna humana.

2. Reavalie suas expectativas

Será que você está tentando seguir um padrão que não combina com sua rotina, sua personalidade ou seu filho? Adaptar suas metas à sua realidade é um ato de amor próprio e sabedoria.

3. Permita-se pedir ajuda

Maternar sozinha é pesado. Dividir tarefas, buscar apoio emocional, delegar quando possível, faz parte do cuidado — com você e com a criança.

4. Cuide da sua saúde mental

Procure ajuda profissional se sentir que não está conseguindo lidar com tudo. Psicólogas especializadas em maternidade podem ser um apoio valioso nesse processo.

5. Valorize o que dá certo

Nem tudo sai como planejado, mas muitas coisas funcionam — ainda que de um jeito diferente do esperado. Celebre as pequenas vitórias, os sorrisos, os aprendizados diários.

Encontrei beleza na imperfeição

Hoje, olho para a mãe que me tornei e sinto orgulho. Não por ser perfeita — mas justamente por ter abraçado minha imperfeição. Descobri que o amor se mostra nas tentativas, no colo depois de um dia difícil, no olhar atento mesmo quando estamos cansadas.

A maternidade real tem bagunça, choro, improviso, mas também tem muito afeto, aprendizado e crescimento. E talvez seja exatamente essa mistura que a torne tão única.

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