Por trás de cada sorriso cansado, de cada tentativa minha de equilibrar o mundo nas costas, existe uma verdade que preciso dizer em voz alta: mãe perfeita não existe – e tudo bem com isso. A idealização da maternidade perfeita foi um dos maiores fardos emocionais que carreguei, e desconstruir esse mito tem sido um ato de libertação para mim.
Durante muito tempo, fui condicionada a acreditar que uma boa mãe é aquela que está sempre disponível, amorosa, paciente, com a casa em ordem e os filhos impecavelmente cuidados. Essa imagem romantizada, além de irreal, é cruel. Ela ignora as dificuldades, os desafios do meu dia a dia e as individualidades da minha família e de cada mãe que conheço.
Hoje entendo que aceitar minhas imperfeições como mãe é essencial para a minha saúde mental e para o bem-estar dos meus filhos. Este texto é uma conversa franca sobre a maternidade real — aquela que vivo longe das telas brilhantes, mas cheia de amor, tentativas e aprendizados.
De onde vem o mito da mãe perfeita?
A construção da “mãe perfeita” veio de muitos lugares: da cultura, da mídia, da pressão social, da minha própria família e, nos tempos atuais, das redes sociais. A figura da mãe abnegada, que vive exclusivamente para os filhos e faz tudo com um sorriso no rosto, foi romantizada e vendida como modelo de sucesso.
Na prática, isso criou uma armadilha: qualquer falha, cansaço ou frustração era encarado por mim como sinal de fracasso. Quando me sentia irritada, exausta ou incapaz de cumprir todas as expectativas, a culpa se instalava. E com ela, o medo de não estar sendo “boa o suficiente”.
Com o tempo, percebi que essas cobranças eram irreais. Eu não sou capaz de dar conta de tudo o tempo todo. E isso não significa que amo menos meus filhos ou que estou falhando. Significa apenas que sou humana.
A comparação silenciosa
Outro grande vilão dessa história é a comparação. É quase automático olhar para a vida de outras mães – principalmente nas redes sociais – e me sentir inferior. Vejo fotos de famílias felizes, refeições coloridas e crianças sorridentes, e esqueço que aquilo é só um recorte, muitas vezes editado e longe da realidade.
O problema é que, ao comparar meus bastidores com vitrines alheias, reforço uma sensação de insuficiência. E o resultado disso é um ciclo de autocrítica constante, que mina minha autoestima e prejudica minha saúde emocional.
Por isso, é tão necessário lembrar: cada casa tem sua rotina, cada mãe tem seus desafios e cada criança tem seu próprio ritmo. Comparar só gera frustração. Compartilhar experiências, sim, pode gerar acolhimento.
Mãe real é melhor que mãe perfeita
Eu erro, choro no banho, sirvo nuggets no jantar e às vezes perco a paciência. E mesmo com tudo isso, sigo sendo uma mãe incrível, porque amo, tento, aprendo e sigo em frente todos os dias.
Ser uma mãe real é mostrar aos meus filhos que a vida é feita de altos e baixos. É ensiná-los sobre resiliência, perdão, limites e empatia. É ser exemplo de força, mas também de vulnerabilidade.
A maternidade real é feita de momentos de conexão profunda, mas também de tédio, exaustão e dúvidas. E está tudo bem. O amor verdadeiro não precisa de perfeição – ele precisa de presença e verdade.
Como me libertei da culpa e das expectativas irreais
Desconstruir a ideia da mãe perfeita foi (e ainda é) um processo, e ele começou com pequenas atitudes no meu dia a dia. Aqui estão algumas práticas que me ajudaram:
1. Questionei padrões inatingíveis
Sempre que me sentia falhando, perguntava: “Essa expectativa é minha ou vem de fora?” Muitas vezes, percebia que estava tentando atingir um padrão que nem sequer acreditava de verdade.
2. Pratiquei o autoacolhimento
Passei a me falar com mais carinho. Troquei o “eu deveria dar conta” por “estou fazendo o meu melhor”. Hoje, sou minha melhor amiga – e mereço esse cuidado.
3. Celebrei pequenas vitórias
Nem todo dia é produtivo. E tudo bem. Passei a valorizar os momentos simples: um abraço apertado, um riso espontâneo, um jantar juntos. Isso é o que realmente importa.
4. Pedi ajuda sem culpa
Descobri que não preciso fazer tudo sozinha. Criar uma rede de apoio foi essencial – seja com familiares, amigos, vizinhos ou profissionais.
5. ME Inspirei com histórias reais
Busquei conteúdo que representasse a maternidade como ela é. Artigos, relatos e vídeos com experiências verdadeiras me ajudaram a criar identificação e reduzir a sensação de isolamento.
O impacto da autocompaixão na criação dos filhos
Quando me permiti ser imperfeita, abri espaço para que meus filhos também crescessem sem medo de errar. Ao mostrar minha vulnerabilidade, ensino que falhar faz parte do caminho. Que pedir desculpas é um ato de coragem. Que não há problema em não saber tudo.
Meus filhos convivem com uma mãe real e, por isso, estão aprendendo a ser mais empáticos, autoconfiantes e conscientes. Eles entendem que amor não é sobre controle ou perfeição, mas sobre vínculo, presença e verdade.
Por isso, quando me sinto distante do ideal de mãe que imaginei, respiro fundo e me lembro: não existe um modelo ideal. O que existe é a minha maternidade, feita à minha maneira, com meus valores, minha história e meu coração.
Eu não preciso ser perfeita para ser suficiente. Só preciso ser eu – com meus limites, meus aprendizados e minha verdade. Ser mãe é, acima de tudo, um exercício diário de entrega e transformação. E nessa jornada, o mais importante não é atingir um ideal, mas viver cada fase com autenticidade e amor.
A mãe perfeita pode até existir nos comerciais de TV ou nos posts bem editados das redes sociais. Mas a mãe real – aquela que acorda cansada, mas tenta de novo; que erra, mas pede desculpas; que ama de forma imperfeita, mas imensamente verdadeira – essa sou eu. E é essa que meus filhos mais precisam.
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